Fundação Dinaco Reis
Nascida na Polônia em 5 de março de 1871, Rosa Luxemburgo se tornaria uma da principais teóricas e militantes da história do marxismo. Suas contribuições ao marxismo viriam em múltiplas esferas: polemizando no interior da Social Democracia Alemã contra o revisionismo, contribuindo com a renovação do pensamento teórico, analisando o movimento de desenvolvimento do imperialismo e cumprindo destacado papel na reorganização do movimento comunista europeu e mundial após a traição dos principais dirigentes e organizações vinculados à Internacional Socialista.
Rosa Luxemburgo foi assassinada em janeiro de 1919, junto com Karl Liebknecht, pelas forças do governo alemão, que contava com a colaboração da Social Democracia Alemã, cuja traição já havia sido denunciada por ela. Sua precoce morte não impediu que vida e obra servissem de exemplo e guia para comunistas e socialistas de todo o mundo. Nas palavras de Lênin, ela era a “a águia polonesa”.
Num ambiente fortemente marcado por tradicionalismos e machismo, Rosa defendeu sua tese de doutorado ainda em 1898 e logo em seguida participou de intensa polêmica com o maior expoente do socialismo evolucionista, Eduard Bernstein. Opondo-se ao reformismo e defendendo a perspectiva revolucionária, Rosa afirmou: “Entre a reforma social e a revolução, a socialdemocracia vê um elo indissolúvel: a luta pela reforma é o meio, a revolução social é o fim”.
Rosa foi presa em 1914 sob acusação de incitar a desobediência civil nas suas duras críticas à guerra e ao imperialismo, mas, mesmo presa, cumpriu importante papel junto à vanguarda da classe proletária alemã. Ironizando a postura das lideranças da Social Democracia europeia em relação à guerra afirmou: “Proletários de todos os países, uni-vos em tempo de paz e degolai-vos uns aos outros em tempo de guerra”. Em apoio ao processo revolucionário, escreveu A Revolução Russa, tecendo críticas aos bolcheviques, mas reconhecendo que:
“Lênin, Trotsky e seus amigos foram os primeiros a dar o exemplo ao proletariado mundial. Eles são ainda os únicos que podem exclamar com Huten: Eu ousei! Eis o que é essencial e duradouro na política dos bolcheviques. Conquistando o poder e colocando praticamente o problema da realização do socialismo, fica-lhes o mérito imorredouro de terem dado o exemplo ao proletariado internacional e um enorme passo no caminho do ajuste de contas final entre o capital e o trabalho no mundo inteiro. Na Rússia, o problema não poderia ter sido senão colocado. E é nesse sentido que o futuro pertence em toda a parte ao bolchevismo”.
Libertada apenas em 1918, esteve à frente da Liga Espartaquista e participou da fundação do Partido Comunista da Alemanha (KPD). Após a derrocada da revolução alemã, em 15 de janeiro de 1919, Rosa e os principais líderes do Partido foram presos e levados para interrogatório, jamais sendo vistos novamente. Rosa e Liebknecht foram executados e seus corpos jogados nas águas geladas de um canal em Berlim.
Em texto publicado em 2005, o intelectual e militante marxista Nestor Kohan destacou, a respeito do assassinato dos líderes comunistas alemães e da traição da socialdemocracia:
“Em 9 de novembro de 1918 (um ano depois da revolução bolchevique na Rússia) começou a revolução alemã. Foram dois meses de agitação ininterrupta. Depois de uma greve geral, os trabalhadores insurretos – dirigidos pela Liga Espartaquista – proclamaram a república, formaram conselhos revolucionários de operários e soldados. Enquanto Kautsky e outros socialistas mostravam vacilação, o grupo maioritário na social-democracia alemã (comandado por Friederich Ebert [1870-1925] e Philip Schleidemann [1865-1939]) enfrentou com violência e sem contemplações os revolucionários.
Foi assim que Gustav Noske [1868-1947], membro deste grupo (o SPD), assumiu o Ministério da Guerra. A partir desse cargo e com a ajuda de oficiais do antigo regime monárquico alemão, organizou a repressão dos insurretos espartaquistas. Entretanto, o diário oficial social-democrata Vorwarts [Avante] publicava editais chamando os Freikorps – ‘corpos livres’, nome dos comandos terroristas da direita – para combaterem os espartaquistas, oferecendo-lhes ‘salário, teto, comida e cinco marcos extra’".
Em 15 de janeiro de 1919, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo são capturados em Berlim pelos encolerizados soldados. Horas mais tarde são selvagemente assassinados. Pouco depois, León Jogiches [1867-1919], companheiro de amor e militância de Rosa Luxemburgo durante muitos anos, é igualmente assassinado. O corpo de Rosa, já sem vida, é jogado pela soldadesca em um rio. O seu cadáver foi encontrado em maio, cinco meses depois.
A responsabilidade política que a social-democracia reformista teve no covarde assassinato de Rosa Luxemburgo e dos seus companheiros já nenhum historiador a discute. Esse ato de barbárie ficou como uma mancha moral que dificilmente se apagará com o tempo.
Mas a memória imortal de Rosa, o seu pensamento marxista, a sua ética revolucionária e o seu inflexível exemplo de vida, continuam vivos. Afetuosamente vivos. Na ponte onde os seus assassinos arrojaram o seu corpo à água continuam a aparecer, periodicamente, flores vermelhas. As novas gerações, envolvidas em força na luta contra o capital globalizado e o imperialismo, não a esquecem.”
Permanecem absolutamente atuais e necessárias as frases de Rosa: “Há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos.”
Publicação original em anamontenegro.org
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